O sudeste brasileiro, principalmente o estado de São Paulo, vem sofrendo com a escassez de água. Com a falta de chuvas na região e os reservatórios praticamente secos, a população inteira está preocupada com o futuro. Ao mesmo tempo as atividades econômicas do país não param e, dentre elas, está a construção civil, setor que emprega cerca de 3,5 milhões de trabalhadores no Brasil.
Quais alternativas temos, em mãos, para seguir trabalhando o segmento sem desperdiçar o pouco de água que temos? Segundo Allan Comploier, engenheiro e diretor da MasterHouse Manutenções e Reformas, a construção civil apresenta taxas que variam de 25% a 30% de desperdício de recursos naturais como matérias-primas, água e energia. “Estima-se que haja desperdício de 20 litros de água por metro quadrado construído graças a mangueiras danificadas ou ligadas sem uso, vazamentos nas instalações hidráulicas e negligência por parte dos trabalhadores”, comenta. E, se há desperdício, é fundamental que haja uma intervenção em busca da economia.
Algumas ações simples e que não representam elevação dos custos das obras são importantíssimas, como alerta Renê Galetti, engenheiro civil com ênfase em sistemas construtivos e diretor da Galetti Engenharia: “devemos acondicionar a água da chuva para utilização, aproveitar a água do subsolo em casos de obras nas quais são encontrados lençóis freáticos e utilizar redutores de pressão para diminuir a quantidade de água que sai pelas torneiras”.
Além destas medidas clássicas, a criatividade auxilia a providenciar novas melhorias sustentáveis. Para Daniel Fazenda Freire, diretor da D2F Engenharia, é possível fazer mais. “Nos canteiros podemos utilizar telhas translúcidas a fim de iluminar os ambientes sem a necessidade da energia elétrica e investir em uma ventilação cruzada, o que evita o uso do ar condicionado”, diz.
Com relação ao trabalho propriamente dito, é possível optar por produtos desenvolvidos com tecnologia de ponta como, por exemplo, a argamassa que não requer a utilização de água. “Este produto reduz em até 90% o desperdício nos canteiros, além de triplicar a produtividade dos trabalhadores”, finaliza Comploier.
Conscientização do corpo de trabalho – Educar os trabalhadores para que evitem o desperdício no dia a dia é fundamental. A MasterHouse elaborou uma cartilha educativa com medidas de combate ao desperdício e realizou palestras informativas sobre a racionalização do uso de água. “O resultado foi satisfatório e reduzimos em aproximadamente 30% o consumo de água em nossas reformas”, declarou Comploier. Sem uma legislação que regulamente a utilização dos recursos naturais nos canteiros de obra, o brasileiro conta com a dedicação de seus profissionais. “Não há uma norma quanto a isso, portanto o reuso e a economia dependem basicamente da consciência de todos os envolvidos no projeto”, comenta Galetti. Mais uma prova de que é fundamental manter este diálogo sempre aberto entre engenheiros, arquitetos, designers e todos os profissionais atuantes na construção civil.